quinta-feira, 28 de julho de 2011

MUITO BEM... É ISSO MESMO MARIA PAULA.

Crônica da Revista de domingo do Correio Braziliense
O país da construção em
Ruínas.

No século passado, quando o Brasil era um país periférico, sem nenhuma importância no cenário mundial, as previsões diziam que logo logo estaríamos “na moda”. Eu não botava muita fé, já que sentia na pele nossa colossal insignificância sempre que viajava ao exterior. Poucos conheciam qualquer coisa real sobre o Brasil. Ninguém sabia precisamente onde ficava. “A capital é Buenos Aires?” era a pergunta natural. E nossa língua sempre foi o espanhol para os gringos desavisados, que não faziam a menor questão de se inteirar do assunto. No máximo, o futebol despertava algum interesse sobre a nossa terra.
As coisas mudaram num piscar de olhos. De país endividado, miserável, sem perspectivas, passamos a emergentes e, rapidamente, o tema das rodas mais antenadas. Copa do Mundo, Olímpiadas. Os olhos do mundo se voltam para nossa nação enquanto assistimos a ambas, América do Norte e comunidade europeia, em franca decadência. Falta de emprego, economias à beira da falência... Incrível a inversão de papéis.
Pena que não temos maturidade para aproveitar tamanha chance. A impressão que tenho é de que estamos entrando em pane na hora da decolagem. Nosso custo de vida de repente se tornou dos mais altos do planeta. Para comprovar, basta sair para jantar fora ou tentar alugar um apartamento no Rio de Janeiro, em São Paulo ou em Brasília. O preço das roupas, então! É até ridícula a diferença de valor daqui para os Estados Unidos, Europa ou Argentina!
O que me deixa mais assustada é que a alta dos preços é diretamente proporcional à quantidade de impostos. Vivemos num país sem lei, tomado de assalto por um bando de corruptos. Nossos impostos vão para paraísos fiscais, onde a lavagem de dinheiro é facilitada. Eles vão ficando milionários às nossas custas.
O Congresso Nacional funciona de modo a garantir que os interesses da propriedade privada sejam protegidos. As leis só são votadas na base da chantagem dos aliados. E assim os absurdos se enfileiram: o Código Florestal é deturpado para que a bancada ruralista faça suas barganhas, os detentores da informação privilegiada fazem “consultoria” a empresas e outras barbaridades afins.
As prioridades não são ditadas pelos interesses públicos, como deveriam ser. Os cargos estratégicos são distribuídos de forma a cumprir acordos feitos com partidos durante as eleições, o que faz com que os ministros não sejam autoridades no assunto. Os critérios de escolha dizem respeito a um jogo político nojento e o resultado é um escândalo por semana. Os homens públicos, que deveriam estar trabalhando para o país, estão, com raras exceções, enriquecendo ilicitamente e promovendo o mesmo efeito no bolso de seus comparsas. Tráfico de influência, obras superfaturadas, empreiteiros e governadores passeando juntos de jatinho, enquanto 70% das verbas desviadas são justamente dos setores mais importantes: saúde e educação!
Assim, nem com a onda de investimentos no país, nem com todas as qualidades do nosso povo criativo e capaz de improvisação, nem com a ajuda de Deus conseguiremos progredir.
Como diria Caetano Veloso, aqui tudo parece que era ainda construção e já é ruína! Uma das causas disso, imagino, pode ser a desvalorização dos “sem terra”, dos “sem carro”, dos “sem grana”. Quem não tem nada se sente péssimo, pois é tratado como lixo e, ao olhar para o corrupto, tão bem-sucedido, os excluídos se revoltam e, caso tenham chance, podem fazer igual ou pior, em vez de condenar a desonestidade e desautorizar o político criminoso.
A corrupção se tornou algo corriqueiro. O caixa dois de campanha é justificado pela gana de alcançar e se manter o maior tempo possível no poder. Os pactos são a forma normal de se governar. Só vejo saída por uma nova educação, capaz de fortalecer a autoestima do povo para que, em hipótese alguma, seja desejável subir a qualquer custo e se vingar na mesma moeda!

Crônica de Maria Paula


           

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