Contribuição maravilhosa de Pe Rafael Vieira da Igreja Perpetuo Socorro, em frente ao Gilberto Salomão, Lago Sul.
Mariama
Sou péssimo de memória, mas me lembro, vivamente, de uma das belíssimas expressões poéticas de Dom Helder Câmara na qual ele mistura Maria, Amor e Mãe. É um dos textos da missa que ele compôs com Milton Nascimento. Uma síntese perfeita. Em seu entusiasmo santo, ele gritava: “Mariama, Mãe dos homens de todas as raças, de todas as cores, de todos os cantos da Terra. Pede ao teu filho que esta festa não termine aqui, a marcha final vai ser linda de viver.” Marcha essa que nos últimos dias está tomada por trôpegos peregrinos submetidos a um bombardeio de informações que dão conta de que um terrorista-símbolo foi assassinado e que muita gente foi à rua para celebrar essa “vitória”. Confundem sede de justiça por sede de vingança. Esquecem os ensinamentos do Filho da Mariama e depois não sabem bem o que fazer com a imagem do morto.
A maternidade é uma das mais belas provas humanas de que não há limites para o amor. Talvez tenha sido essa percepção que alimentou vinte séculos de culto mariano em muitas igrejas, não somente na igreja católica. Maria não é especial apenas por ter sido considerada, segundo relata o evangelista Lucas, “bendita entre todas as mulheres”, mas porque nos representa a todos. Homens e mulheres, jovens e anciãos, bonitos e feios, mansos e coléricos, crianças cercadas de carinho e meninos e meninas manchados pelo descaso e pela violência do abandono, da miséria, da exploração sexual. Maria é nosso “avatar”comum. Nela, estamos todos. A humanidade inteira cabe na docilidade de uma habitante da Palestina de tanto tempo atrás. Nem a cisma medieval com a virgindade tirou o brilho dessa mulher que tem sinônimo de mãe.
Vejo traços de Maria no rosto de todas as mães. Das adolescentes sem rumo e participantes de relações bobas que resultam em gravidez sem planos, sem sonho, sem cuidado. Das mulheres prostitutas que enfrentam o jogo pérfido da venda da alma, não somente do corpo, e sustentam seus filhos. Das senhoras distintas que apostaram sua vida na retidão, na obediência, na conservação da harmonia familiar. Das moças iluminadas que abraçaram carreiras exigentes sem abrir mão de criar crianças. Das mulheres corajosas que escrevem, publicam livros, fazem crônicas, criam blogs, cantam, atuam na TV como reflexos da surpreendente experiência da maternidade. Todas elas nos ensinam, como Maria, a viver neste mundo como irmãos.
Peço, com Dom Helder, lembrando sua invocação: “Mariama, Senhora Nossa, Mãe querida... (mostre-nos) Um mundo sem senhor e sem escravos. Um mundo de irmãos. De irmãos não só de nome e de mentira. De irmãos de verdade, Mariama”.
Abraço ao pessoal da UGA.
Pe. Rafael Vieira, CSsR
Nenhum comentário:
Postar um comentário