De: CARLA COSTA carla.caclas@gmail.com
Temos visto muita gente deprimida. Muita gente sofrendo, pedindo ajuda, aqui e acolá, a deuses, santos, gurus!
Razões várias, família, falta de emprego, problemas financeiros, doenças, perdas de entes queridos.
Os olhos buscam outros olhos, o coração busca amparo, aconchego, através de palavras de carinho e compreensão. Sofrimento da alma, vazio da alma...
Cansamos de buscar no exterior o que só existe em nós mesmos. Felicidade, amor, paz são conquistas do espírito, que ninguém pode nos proporcionar, a não ser nós mesmos.
Em Santo Agostinho1 encontramos o aforismo: “Não vás para fora; volta a ti; dentro do homem habita a verdade: a necessidade da busca.”
O oceano é muito mais do que ondas e espuma. Contemplando-o vemos sua superfície, mas não temos acesso às suas profundezas. Quantos mistérios e maravilhas elas escondem! Para conhecê-los, precisamos mergulhar em suas águas.
Também nós somos muito mais do que a roupa que vestimos, a profissão que exercemos ou o corpo físico com que nos manifestamos no mundo e para o mundo. Se acreditamos que não há nada além do que vemos em nós e ao nosso redor, perdemos a essência e a beleza de quem nós somos. Perdemos a consciência de nosso poder, do sentido de nossa existência.
Há muito o homem formula e busca compreender as mais diversas questões ontológicas. Para Husserl, o grande desafio do ser humano é captar a essência que está embutida na existência. Infelizmente, nossa percepção e conhecimentos limitados nos deram apenas respostas parciais, dúbias ou falhas acerca do conhecimento do ser. Tentar inferir o todo a partir de algumas de suas partes é bastante difícil e arriscado. Cairemos sempre num terrível reducionismo, pois, em geral, ele é maior que a soma de suas partes. É como buscar conhecer o Universo a partir da visão do céu noturno onde nos encontramos.
É o que acontece com os materialistas, que sustentam que a única coisa da qual podemos afirmar a existência é a matéria e que, fundamentalmente, todas as coisas são compostas de matéria, sendo os fenômenos resultado de interações materiais. Fizeram, desta forma, como os antigos que, em virtude de não conseguirem vislumbrar nada além da linha do horizonte, acreditavam que o mundo lá se acabava.
A filosofia existencialista, por sua vez, descreveu um mundo irracional e absurdo, onde vivíamos uma existência sem sentido, ameaçados constantemente pelo sofrimento. Jean Paul Sartre dizia que a vida não teria sentido a priori. Ou seja, antes de viver, a vida não seria nada, mas dependeria do homem dar-lhe um sentido, possibilitando a criação de uma comunidade humana. Reconhecia, contudo, que o estimulante da existência humana é a transcendência, ou seja, é fora de si que ele vê um fim, um objetivo (a ação), que é libertação.
A partir de premissas de que o homem não é mais do que aquilo que ele faz, estas e outras ideologias estimularam o homem e a sociedade no desenvolvimento da razão, da tecnologia, da busca do conforto e do desenvolvimento econômico mas gradativamente nos afastaram de nós mesmos, acarretando o aparecimento de um grande vazio existencial que, conscientemente ou não, tentamos “apagar” de nossas mentes e corações através da busca desenfreada do ter, do prazer instantâneo e contínuo e da necessidade permanente do outro.
Na ignorância de quem realmente somos, queremos que o outro nos reconheça. Na ausência de amor por nós mesmos, imploramos que o outro nos ame. Desconhecendo nosso potencial de cura e autocura, nos entupimos de remédios e poções, fazendo verdadeiras peregrinações aos consultórios médicos e hospitais. Esquecendo-nos de que Deus está em nós e que nós estamos Nele, o procuramos em imagens e talismãs, nos guias espirituais, bem como nos templos religiosos de toda sorte. Como já disse Herman Hesse:
“Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.”
Estamos matriculados na grande escola da vida, buscando constantemente progredir. Como em toda escola, há muitas disciplinas a serem aprendidas. A disciplina do amor, do perdão, da tolerância, da indulgência, da humildade, entre outras. Como toda escola, somos testados em nosso aprendizado. Temos tarefas a cumprir. Precisamos nos esforçar para aprender o que é necessário, do contrário, não passaremos de ano e precisaremos repetir as matérias. Em outra existência, numa outra personalidade, mas em essência, somos o mesmo espírito imortal.
Através do autoconhecimento, percebemos nossas potencialidades e dificuldades, as lições que necessitamos aprender nesta existência e em que patamar estamos no nosso aprendizado. Compreendemos que a nós cabe o esforço diuturno do aprimoramento íntimo, sabendo que quando a dor vem, é a fim de nos avisar que nosso rendimento está abaixo daquilo que é esperado e que precisamos nos esforçar mais ou testar nosso progresso em determinada “matéria”. Concluímos que o sofrimento é colheita, nascido do plantio da ignorância, do egoísmo e do medo. E que o amor é a verdadeira força de criação e coesão de todas as coisas.
Por isso afirmamos categoricamente:
Basta de sofrer, de implorar por amor e felicidade. Nós somos amor! Nós somos felicidade! Essa é nossa essência, mas o que pensamos, dizemos e fazemos nos aproxima ou nos afasta dessa essência.
Não acreditemos no niilismo. A vida tem sentido sim! Tudo tem uma causa, nada é em vão. Existimos não pelo simples fato de existir, não para desfrutarmos dos prazeres terrenos ou sofrer. Existimos para conhecer e resgatar a nós mesmos, através da vivência daquilo que somos, o amor.
1- Santo Agostinho, De Vera Religione, págs. 39 a 72.
2 - Rudini Sampaio, Sartre - "O Existencialismo É Um Humanismo" - http://www.ime.usp.br.
3- Paulo Afonso de Araújo, A Questão Ética Diante Do Niilismo, Revista Ética & Filosofia Política (Volume 6, Número 2, Novembro/2003).
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"As pessoas viajam para admirar a altura das montanhas, as imensas ondas dos mares, o longo percurso dos rios, o vasto domínio do oceano, o movimento circular das estrelas, e no entanto elas passam por si mesmas sem se admirarem. "
( Santo Agostinho )
CONHECER A NÓS MESMOS É RESGATAR NOSSA ESSÊNCIA
Temos visto muita gente deprimida. Muita gente sofrendo, pedindo ajuda, aqui e acolá, a deuses, santos, gurus!
Razões várias, família, falta de emprego, problemas financeiros, doenças, perdas de entes queridos.
Os olhos buscam outros olhos, o coração busca amparo, aconchego, através de palavras de carinho e compreensão. Sofrimento da alma, vazio da alma...
Cansamos de buscar no exterior o que só existe em nós mesmos. Felicidade, amor, paz são conquistas do espírito, que ninguém pode nos proporcionar, a não ser nós mesmos.
Em Santo Agostinho1 encontramos o aforismo: “Não vás para fora; volta a ti; dentro do homem habita a verdade: a necessidade da busca.”
O oceano é muito mais do que ondas e espuma. Contemplando-o vemos sua superfície, mas não temos acesso às suas profundezas. Quantos mistérios e maravilhas elas escondem! Para conhecê-los, precisamos mergulhar em suas águas.
Também nós somos muito mais do que a roupa que vestimos, a profissão que exercemos ou o corpo físico com que nos manifestamos no mundo e para o mundo. Se acreditamos que não há nada além do que vemos em nós e ao nosso redor, perdemos a essência e a beleza de quem nós somos. Perdemos a consciência de nosso poder, do sentido de nossa existência.
Há muito o homem formula e busca compreender as mais diversas questões ontológicas. Para Husserl, o grande desafio do ser humano é captar a essência que está embutida na existência. Infelizmente, nossa percepção e conhecimentos limitados nos deram apenas respostas parciais, dúbias ou falhas acerca do conhecimento do ser. Tentar inferir o todo a partir de algumas de suas partes é bastante difícil e arriscado. Cairemos sempre num terrível reducionismo, pois, em geral, ele é maior que a soma de suas partes. É como buscar conhecer o Universo a partir da visão do céu noturno onde nos encontramos.
É o que acontece com os materialistas, que sustentam que a única coisa da qual podemos afirmar a existência é a matéria e que, fundamentalmente, todas as coisas são compostas de matéria, sendo os fenômenos resultado de interações materiais. Fizeram, desta forma, como os antigos que, em virtude de não conseguirem vislumbrar nada além da linha do horizonte, acreditavam que o mundo lá se acabava.
A filosofia existencialista, por sua vez, descreveu um mundo irracional e absurdo, onde vivíamos uma existência sem sentido, ameaçados constantemente pelo sofrimento. Jean Paul Sartre dizia que a vida não teria sentido a priori. Ou seja, antes de viver, a vida não seria nada, mas dependeria do homem dar-lhe um sentido, possibilitando a criação de uma comunidade humana. Reconhecia, contudo, que o estimulante da existência humana é a transcendência, ou seja, é fora de si que ele vê um fim, um objetivo (a ação), que é libertação.
A partir de premissas de que o homem não é mais do que aquilo que ele faz, estas e outras ideologias estimularam o homem e a sociedade no desenvolvimento da razão, da tecnologia, da busca do conforto e do desenvolvimento econômico mas gradativamente nos afastaram de nós mesmos, acarretando o aparecimento de um grande vazio existencial que, conscientemente ou não, tentamos “apagar” de nossas mentes e corações através da busca desenfreada do ter, do prazer instantâneo e contínuo e da necessidade permanente do outro.
Na ignorância de quem realmente somos, queremos que o outro nos reconheça. Na ausência de amor por nós mesmos, imploramos que o outro nos ame. Desconhecendo nosso potencial de cura e autocura, nos entupimos de remédios e poções, fazendo verdadeiras peregrinações aos consultórios médicos e hospitais. Esquecendo-nos de que Deus está em nós e que nós estamos Nele, o procuramos em imagens e talismãs, nos guias espirituais, bem como nos templos religiosos de toda sorte. Como já disse Herman Hesse:
“Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.”
Estamos matriculados na grande escola da vida, buscando constantemente progredir. Como em toda escola, há muitas disciplinas a serem aprendidas. A disciplina do amor, do perdão, da tolerância, da indulgência, da humildade, entre outras. Como toda escola, somos testados em nosso aprendizado. Temos tarefas a cumprir. Precisamos nos esforçar para aprender o que é necessário, do contrário, não passaremos de ano e precisaremos repetir as matérias. Em outra existência, numa outra personalidade, mas em essência, somos o mesmo espírito imortal.
Através do autoconhecimento, percebemos nossas potencialidades e dificuldades, as lições que necessitamos aprender nesta existência e em que patamar estamos no nosso aprendizado. Compreendemos que a nós cabe o esforço diuturno do aprimoramento íntimo, sabendo que quando a dor vem, é a fim de nos avisar que nosso rendimento está abaixo daquilo que é esperado e que precisamos nos esforçar mais ou testar nosso progresso em determinada “matéria”. Concluímos que o sofrimento é colheita, nascido do plantio da ignorância, do egoísmo e do medo. E que o amor é a verdadeira força de criação e coesão de todas as coisas.
Por isso afirmamos categoricamente:
Basta de sofrer, de implorar por amor e felicidade. Nós somos amor! Nós somos felicidade! Essa é nossa essência, mas o que pensamos, dizemos e fazemos nos aproxima ou nos afasta dessa essência.
Não acreditemos no niilismo. A vida tem sentido sim! Tudo tem uma causa, nada é em vão. Existimos não pelo simples fato de existir, não para desfrutarmos dos prazeres terrenos ou sofrer. Existimos para conhecer e resgatar a nós mesmos, através da vivência daquilo que somos, o amor.
1- Santo Agostinho, De Vera Religione, págs. 39 a 72.
2 - Rudini Sampaio, Sartre - "O Existencialismo É Um Humanismo" - http://www.ime.usp.br.
3- Paulo Afonso de Araújo, A Questão Ética Diante Do Niilismo, Revista Ética & Filosofia Política (Volume 6, Número 2, Novembro/2003).
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